No Brasil e no mundo a gestão de resíduos sólidos tem sido um grande desafio nas mais variadas atividades econômicas¹,²,³. Devido à diversidade de matérias-primas que compõem os produtos, o plástico é o material mais presente em todos os segmentos produtivos, representando, ao mesmo tempo, um problema e uma grande oportunidade de reaproveitamento dentro de uma economia circular. Esse reaproveitamento gera economia de matéria-prima virgem, energia, cria postos de trabalho e evita que resíduos com potencial de reutilização sejam descartados aleatoriamente. Dentro desse universo de polímeros usados nas mais diversas formas, as redes de pesca possuem um papel muito importante.
As redes, em geral, especialmente as compostas por Poliamida 6 (Nylon), são frequentemente descartadas após o fim de seu ciclo de vida útil, sem nenhum reaproveitamento em larga escala. Atualmente, existem poucas iniciativas, tanto públicas quanto privadas, para a recuperação desse material, que ainda é reciclável e possui valor agregado.
As dificuldades enfrentadas na implementação de programas que gerenciam o material começam na sua origem (pós-uso). A fonte desse material provém das comunidades pesqueiras, sendo essencial construir uma relação amistosa e de troca de experiências com esses atores. É necessário oferecer à comunidade uma opção para o encaminhamento de suas redes inservíveis à reciclagem, gerando resultados positivos tanto para a gestão de seus descartes quanto para o posicionamento do setor pesqueiro no combate à poluição plástica no oceano.
Uma vez que a comunidade pesqueira adere a essa opção para suas redes, surgem outros desafios na gestão desse material, como a triagem (separação por tipo de petrechos), a caracterização (aspectos físicos), o armazenamento e análises de dados, o armazenamento físico do material, o processo de transformação e suas limitações, e, finalmente, a reinserção do material na economia.
Um dos objetivos do Projeto Petrechos de Pesca é exatamente atuar oferecendo uma solução para essa lacuna existente no processo de logística reversa dos petrechos de pesca. Dessa forma, em breve iremos compartilhar com vocês mais detalhes dos processos e protocolos que seguimos para melhorar a gestão desses materiais na série “caminhos para a gestão de petrechos de pesca”.

Referências:
¹Hopewell, Jefferson, Robert Dvorak, and Edward Kosior. “Plastics recycling: challenges and opportunities.” Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences 364, no. 1526 (2009): 2115-2126.
²Li, Houqian, Horacio A. Aguirre-Villegas, Robert D. Allen, Xianglan Bai, Craig H. Benson, Gregg T. Beckham, Sabrina L. Bradshaw et al. “Expanding plastics recycling technologies: chemical aspects, technology status and challenges.” Green Chemistry 24, no. 23 (2022): 8899-9002.
³Pincelli, Isabella Pimentel, Armando Borges de Castilhos Júnior, Marcelo Seleme Matias, and Emília Wanda Rutkowski. “Post-consumer plastic packaging waste flow analysis for Brazil: The challenges moving towards a circular economy.” Waste Management 126 (2021): 781-790.
