Investigando o fundo do mar através do mergulho científico

Ao longo das publicações já realizadas aqui nós compartilhamos algumas das metodologias empregadas em nossas atividades de campo e um pouco da nossa rotina de trabalho embarcado. Cada campanha de mar realizada no Projeto Petrechos de Pesca  no entorno da Ilha Anchieta¹ compreende cinco dias de trabalho, onde são coletados dados ambientais e sonográficos em nossa área de estudo. Além disso, a interpretação das imagens do fundo marinho obtidas pelo sonar, já explicada anteriormente aqui no site, é validada através das filmagens e fotografias obtidas com câmeras subaquáticas e mergulhos científicos fazendo com que as diferentes formas e feições do fundo marinho e anomalias identificadas nos sonogramas possam ser confirmadas pelos pesquisadores. E foi assim que o projeto encerrou esta temporada com oito campanhas de mar, realizando, dentre outras atividades, os mergulhos científicos, que compartilharemos aqui em detalhes.

No dia 13/06/2024 a equipe do projeto dirigiu-se ao Parque Estadual da Ilha Anchieta com a finalidade de realizar mergulhos autônomos em pontos específicos do entorno da ilha, onde foram identificadas nas imagens sonográficas uma maior quantidade de anomalias, podendo estas serem petrechos de pesca tais como panos de rede e cabos.  A equipe também investigou uma área de especial relevância onde suspeitava-se da presença de grande quantidade de cabos submersos presos ao solo.

Ao longo do dia foram realizados três mergulhos, totalizando mais de 30 minutos de gravações subaquáticas para validação dos dados e planejamento de possíveis procedimentos para remoção de petrechos de pesca perdidos. Além de averiguar o fundo marinho e sua comunidade bentônica² predominante, a equipe também localizou pontos com acúmulo de cabos náuticos perdidos presos às rochas ou à areia, neste caso, parcialmente ou totalmente soterrados, além de uma poita de cimento já deteriorada. Quando possível, os itens foram removidos, considerando sempre a segurança dos mergulhadores e o grau de incrustação dos cabos. 

É importante lembrar que itens encontrados no fundo marinho podem estar submersos há anos e o seu grau de incrustação muitas vezes é um bom indicativo de tempo. Os cabos, redes, boias e demais petrechos de pesca ou itens náuticos, uma vez perdidos, derivam na água e, portanto, podem ter origem em localidades distantes daquelas onde são encontrados.

No Projeto Petrechos de Pesca são investigados os itens perdidos para que possamos traçar estratégias de prevenção às perdas, apoiando o setor pesqueiro e visando a conservação do ambiente marinho e sua biodiversidade. O mergulho é uma das técnicas empregadas e contribui para a obtenção de informações que permitam a produção de conhecimento científico aplicado para o fomento das boas práticas de pesca sustentável. Para conhecer mais sobre nossos objetivos, atividades e resultados já alcançados, acompanhe nossas publicações aqui no site e siga nossas redes sociais!

Mergulho científico realizado no Parque estadual na Ilha Anchieta, Ubatuba (SP) em 13/06/2024. 

¹ A área de estudo corresponde ao Polígono definido pela Portaria SUDEPE nº 24 de 10/11/83.

²Organismos bentônicos são aqueles que vivem associados ao fundo de ambientes aquáticos, sejam fixos ao substrato, chamados de sésseis, como corais e cracas, sejam aqueles que se locomovem, como estrelas-do-mar e caramujos.

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