Os petrechos de pesca são materiais compostos predominantemente por plásticos, e atualmente estão entre os 10 materiais que mais contribuem para a poluição plástica (Gilman et al, 2016). Estima-se que aproximadamente 270 mil toneladas de plásticos derivados do setor pesqueiro sejam consumidos e descartados (Parker, 2023). De acordo com o Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo (Estado de São Paulo, 2020), petrechos de pesca somam 0,3% do lixo no mar.
Estudar formas de processar esses materiais apropriadamente é essencial para combater os problemas de poluição plástica e oferecer oportunidades de reaproveitamento e re-inserção (upcycle) de materiais na economia – o que chamamos de economia circular azul.
Do que são compostos os petrechos de pesca?
Atualmente a pesca é uma atividade dependente do uso de plásticos, e os petrechos inseridos no mercado são em sua grande maioria compostos por fibras sintéticas, sendo as principais: poliamida (PA), poliéster (PES), polietileno (PE) e polipropileno (PP).
Já escrevemos uma matéria sobre os principais tipos de petrechos de pesca e como funcionam, e por quais motivos devemos nos preocupar com a presença desse plástico nos oceanos.

Figura 1: Petrechos de pesca produzidos a partir de compostos plásticos.
Impactos dos petrechos de pesca e plásticos nos oceanos
Os impactos desses materiais no ambiente são alarmantes. A crescente quantidade de resíduos plásticos no oceano desencadeia diversas consequências, como a produção de microplástico, ingestão desses materiais por animais, destruição de habitats, mudanças nos padrões de colonização e emaranhamento, levando à eventual perda de biodiversidade. Esse último é chamado de pesca fantasma, quando petrechos de pesca perdidos no mar continuam capturando os animais marinhos. Estes petrechos de pesca podem permanecer por muitas décadas no mar, colaborando com a poluição plástica no oceano.
Muitas comunidades costeiras dependem da pesca para sua sobrevivência, e a pesca artesanal em especial faz parte da cultura dessas populações. A perda dos petrechos também traz grandes prejuízos às pessoas envolvidas com a pesca, pois imputa em perda financeira e a impossibilidade de exercer a atividade por um período de tempo, aumentando ainda mais seu prejuízo. Além disso, os impactos gerados pelos petrechos perdidos no mar interagem com outros impactos emergentes, como por exemplo as consequências das mudanças climáticas, causando um efeito cumulativo que interfere diretamente na sustentabilidade das atividades de pesca e em questões de segurança alimentar, trazendo um cenário de vulnerabilidade a essas comunidades (Link et al, 2019).
Soluções para mitigar e prevenir tais impactos
A gestão adequada dos petrechos de pesca é um passo essencial para mitigar e prevenir os impactos gerados pela perda de petrechos. A gestão engloba um conjunto de ações para garantir que a relação entre consumo e descarte seja sustentável (Casarini et al, 2018). Dessa forma, algumas formas de facilitar esse processo devem ser consideradas e priorizadas. O Projeto Petrechos de Pesca visa facilitar esse processo, com ações tanto com foco ambiental como social. A instalação do Ecoponto do Pescador, e as caçambas de Ponto de Entrega voluntária (PEV) atuam como um canal de aproximação entre a comunidade e as ações da pesquisa, oferecendo uma oportunidade para o setor ter suas boas práticas fortalecidas e criar um sistema de logística reversa. Futuramente essas ações poderão trazer vantagens para a comunidade, como a possibilidade de geração de renda para as comunidades pesqueiras, cooperativas e outros pequenos negócios locais.

Figura 2: Ecoponto de Pescado localizado Píer do Saco da Ribeira em Ubatuba é um centro de triagem e armazenamento transitório de petrechos de pesca inservíveis. Os materiais triados são armazenado temporariamente até que seja definido uma destinação apropriada para eles.
Como descartar petrechos de pesca inservíveis em Ubatuba
Em Ubatuba estão instaladas caçambas em três pontos estratégicos, que são locais de desembarque pesqueiro: no Píer do Saco da Ribeira (junto ao contêiner do Ecoponto do Pescador), no Cais do Frediani (próximo ao posto náutico Itaguá) e no Cais do Alemão (dentro da fábrica de gelo). Para grandes quantidades ou em caso de impossibilidade de deslocamento, pedimos que entrem contato pelo WhatsApp: 12991644775.

Figura 3: Pontos de Entrega Voluntário do Projeto Petrechos de Pesca localizados em Ubatuba: Pier do Saco da Ribeira, Cais do Alemão e Cais do Frediani, respectivamente.
Triagem do material que chega no Ecoponto do pescador
Uma vez que os petrechos de pesca são entregues e/ou recolhidos, é realizada a triagem e caracterização desse material. Dados sobre peso, diâmetro, composição, comprimento, área, presença ou ausência de bioincrustantes e grau de degradação são avaliados e inseridos em um banco de dados para estudos futuros. Atualmente, a maior quantidade de material processado é composta por redes de pesca (poliamida) e cabos (polietileno). Esses materiais serão destinados de forma apropriada para que possam ser reaproveitados ou reprocessados.
Parceria entre sociedade e pesquisa
A participação e a colaboração da sociedade civil e principalmente das comunidades pesqueiras inseridas nessa interface é essencial para o combate dos problemas ambientais, principalmente pela poluição plástica nos oceanos que vem se agravando exponencialmente. Convidamos a todos a interagir com as ações do projeto e a acompanharem nossas atividades por meio das redes sociais.
Referências:
Casarini, L. M., Motta, N. S., Junior, J. E. D. A. M., Costa, M. D., Costa, J. A., de Carvalho Lanza, M. T., … & Margonari, L. B. (2018). Projeto Petrechos de Pesca Perdidos no Mar e o Sistema Linha Azul de Logística Reversa. Unisanta BioScience, 7(6), 62-76.
Gilman, E., Chopin, F., Suuronen, P., & Kuemlangan, B. (2016). Abandoned, lost and discarded gillnets and trammel nets: methods to estimate ghost fishing mortality, and the status of regional monitoring and management. FAO Fisheries and Aquaculture Technical Paper, (600), I.
Link, J., Segal, B., & Casarini, L. M. (2019). Abandoned, lost or otherwise discarded fishing gear in Brazil: A review. Perspectives in Ecology and Conservation, 17(1), 1-8.
Estado de São Paulo. Plano de Resíduos Sólidos do Estado de São Paulo 2020 [recurso eletrônico] / Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente. SIMAS, A.L.F. et al. (ORGs.) São Paulo: SIMA, 2020.
