Sempre falamos da importância da destinação adequada dos petrechos de pesca, e como a gestão desses resíduos pode trazer benefícios ambientais, sociais e econômicos. Mas, você conhece os petrechos de pesca e quais os materiais que os compõem?
Pensando nisso, trouxemos aqui um pequeno guia informativo com algumas das principais informações sobre o assunto.
Aqui no litoral norte de São Paulo, as principais artes de pesca artesanal são realizadas com rede de emalhar, rede de arrasto, cerco e cerco flutuante e linha e anzol, além da pesca subaquática. Os materiais que compõem os petrechos de pesca utilizados nessas pescarias são componentes produzidos a partir de fios de polímeros sintéticos (plásticos): poliamida (também chamado de nylon), polietileno, poliestireno expandido (isopor), polipropileno e poliéster. Apesar dos petrechos de pesca serem projetados para ficar na água, eles se tornam um problema quando são perdidos e permanecem ocultos no mar. A decomposição desses materiais é lenta, e ocasiona a liberação de minúsculas partículas plásticas: os microplásticos e nanoplásticos, que têm a capacidade de entrar em organismos em nível celular. Além disso, a longa decomposição faz com que esses petrechos permaneçam no mar por muito tempo, oferecendo risco ao ambiente e aos animais, que podem ficar enroscados, se machucarem ou até mesmo ingerir pedaços desse plástico.

Figura 1- Pano de rede de poliamida (nylon) monofilamento

Figura 2- pano de rede de Poliamida ou nylon multifilamento.
Os petrechos de Pesca e como funcionam:
A pesca com rede de emalhar é uma técnica passiva, o que significa que a rede não precisa ser movimentada para que a pescaria aconteça. Quando estendidas, as redes formam uma cortina vertical, que vão ocasionar o emalhamento dos peixes que se deslocam pela coluna d’água. O tamanho da malha do pano de rede seleciona as espécies. Existem tanto as técnicas que atuam na superfície e meia-água, quanto as técnicas para captura de espécies de fundo. Essa variação ocorre com a utilização de bóias e lastros, que irão ajustar a altura da rede dentro da coluna d’água.

Figura 3- Operação de pesca com redes de emalhar de superfície e de fundo (adaptado de Montealegre-Quijano et al., 2011).
Já a pesca de arrasto é uma técnica ativa, ou seja, a embarcação precisa se movimentar e puxar a rede para que os peixes sejam apanhados. Para a realização dessa modalidade de pesca, são utilizadas redes em formato cônico. Isso faz com que os recursos-alvo fiquem aprisionados no interior da rede. A pesca de arrasto pode ser praticada por embarcações de diferentes tamanho, sendo que podem ser utilizadas uma (arrasto simples) ou duas redes (arrasto duplo). No arrasto simples é utilizado um elemento diferencial, as portas, que servem para deixar as redes abertas. Já no arrasto duplo, as embarcações são equipadas com um dispositivo chamado tangone, de cada lado, que funciona como uma espécie de braço mecânico que irá tracionar as redes de cada lado. A pesca de arrasto duplo é comumente utilizada na pesca de camarão rosa e camarão-de-sete-barbas.

Figura 4- Operação de redes de arrasto simples e duplo (Adaptado de Fischer & Haimovici, 2007)
Partindo para outro tipo de pesca, o cerco é uma técnica ativa, na qual frequentemente é realizada a detecção prévia de cardumes de peixes, por meio da utilização de sonares ou avistamentos. As embarcações que praticam a pesca de cerco recebem o nome de traineiras. Essas embarcações cercam os cardumes largando a rede com o auxílio de outra embarcação menor, que forma uma cortina ao redor dos peixes. Essas redes possuem boias na parte superior e, na parte inferior, argolas pesadas e um cabo (as carregadeiras). Assim que a embarcação cerca o cardume, a parte inferior da rede é fechada, formando o saco por onde é recolhido os peixes capturados pelo sarico (puça gigante) ou por sucção, e a rede retorna a bordo pelo guincho (power-block).

Figura 5 – Operação das traineiras para formar o cerco com as redes (Adaptado de Galbraith et al., 2004).
No litoral norte do estado de São Paulo há a presença de um outro tipo de cerco, o chamado cerco flutuante. Esta é uma técnica diferente e se caracteriza como uma armadilha, sendo um meio de captura passiva. A pesca com cerco flutuante é realizada por meio de uma estrutura (o cerco), com redes que são fixadas no substrato por âncoras e ficam esticadas até a superfície por meio dos flutuadores na parte superior da estrutura. As espécies a serem capturadas entram nessa armadilha por meio da espia, que forma um caminho que direciona os animais para o interior da rede. Os peixes capturados permanecem vivos dentro da estrutura, o que possibilita selecionar as espécies e liberar outros animais que ocasionalmente acabam entrando na armadilha. O cerco é montado e permanece ativo por um certo período de tempo (podendo ficar o dia todo), mas deve ser regularmente assistido pelos pescadores.

Figura 6- Exemplo de cerco fixo flutuante (Adaptado de Cruvinel & Vaz-dos-Santos, 2013).
Por fim, a pesca com linha e anzol é bem comum e pode ser praticada em diversos locais por pescadores amadores e de modo recreativo, sendo uma prática passiva. Na pesca com linha e anzol, o peixe é atraído até o anzol com a utilização de uma isca, que pode ser viva ou não, dependendo da espécie-alvo. Esses petrechos de pesca são compostos por uma vara que pode ser de material metálico, alumínio ou madeira, o molinete (também chamado de carretilha), a linha de poliamida, e o anzol. Essa técnica de pesca é usada em pequena escala, já que normalmente apenas um exemplar é capturado por vez. Para escalas maiores, existe uma variação dessa técnica chamada espinhel, praticada normalmente em pontos mais afastados da costa.

Figura 7- Operação de pesca com espinhel de superfície (A) e espinhel de fundo (B) (Adaptado de Montealegre-Quijano et al., 2011).
Agora que você já conhece um pouco dos petrechos de pesca, pode colaborar na melhor gestão desses materiais. Caso você queira descartar os materiais sem utilidade ou encontre petrechos perdidos no mar ou nas praias, entre em contato conosco e iremos orientá-los.
Referências
Catálogo dos aparelhos e embarcações de pesca Marinha do Brasil / organizador Vanildo Souza de Oliveira – Rio Grande: Ed. da FURG, 2020.
Alvarenga, F. S., et al. CARACTERIZAÇÃO DOS CERCOS FLUTUANTES EM UBATUBA-LITORAL NORTE DE SÃO PAULO.” SIMPÓSIO BRASILEIRO DE OCEANOGRAFIA 5, 2011.
Introdução às Ciências do Mar / organizadores Jorge Pablo Castello e Luiz Carlos Krug; autores Jorge Pablo Castello [et al]. – Pelotas: Ed. Textos, 2017.
Dias-Neto, José. O uso da biodiversidade aquática no Brasil: uma avaliação com foco na pesca. / José Dias Neto e Jacinta de Fátima Oliveira Dias. – Brasília: Ibama, 2015. 288 p.
